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23.3.14

Ford GT 40 - A Lenda

Não é só uma lenda, mas uma paixão que acabou com a arrogância da Ferrari e seus donos. Foi dada uma resposta na pista, numa das batalhas mais interessantes ocorridas no século XX - a arena não poderia ser mais sagrada: Le Mans. Desde os anos 20, não se via tal rixa (por assim dizer), no solo sagrado francês. Na verdade a Ford norte-americana queria ingressar com toda a força nas provas européias de endurance, tendo como porta de entrada a famosa pista francesa. Era mais fácil naqueles anos (60), comprar uma empresa já consolidada em especial, em carros esportivos de corrida. Qual o ícone: Ferrari. Mesmo porque, o próprio Henry Ford II, deixou em memorando interno e em várias reuniões, a sua insatisfação em "levar pau" com o AC Cobra em tais provas, principalmente, que em 1962 os 6 primeiros lugares foram ocupados por Ferraris!!! O velho (HF II), colocou o capitão da Ford - Lee Iaccoca - para fazer um carro de corrida de primeira linha. Foi criado um departamento na Inglaterra para abrigar tal projeto chamado de FAV - Ford Advanced Vehicles (nos anos 70 surgiu deste embrião a famosa AVO - Ford Advanced Vehicle Operations, que abrigava a construção dos míticos Ford Escort Mk1s, modelos Twin Cam, RS1600, Mexico, RS2000 e o FORD Capri 6 cilindros). A FAVO criou o FORD GT40.
Na verdade, apesar do Lee Iaccoca ter "bolado" o Mustang, não tinha a menor ideia de como fazer um carro de corrida de médio e longo endurance. Sopraram no ouvido dele alguns nomes. Ele pensou e escolheu o criador da Lola (a T70 foi criada mais tarde), o inglês Eric Broadley. Este por sua vez trouxe John Wyer que trabalhava na Aston Martin-Lagonda e, por convite direto do Lee este escolheu pessoalmente o excelente corredor norte-americano (que corria na Europa) Carroll Shelby (aquele do Cobra), aliás, este último como corredor e como construtor de carros de corrida, indicou Ritchie Ginther para piloto de testes para este projeto.
Conforme as inúmeras conversas que tive com o expert em GT40, Mário Andrade, este bólido foi colocado na pista em 1964 e o seu nome advém do seu tamanho na altura entre o chão e o topo do teto - exatas 40 polegadas (algo em torno de 1,02m). O motor do GT40 era uma variação do Ford Fairlane ("variação", não quer dizer "igual"), ou seja um V8, com 4.7 litros, que gerava 390 CV, que podia atingir os 320 kph! Nos primeiros treinos em Le Sarthe, os protótipos não causaram furor - a frente não combinava com a traseira e vice versa - ou seja, havia um erro de projeto na carroceria e chassis (mais na carroceria), dai os erros aerodinâmicos e de estabilidade. Colocaram uma espécie de aerofólio, ou melhor levantaram um pouco a traseira - melhorou mas não resolveu o problema.
Na primeira corrida (em 64), contrataram uma dupla (como dizia minha vó) - "do barulho": Phil Hill e Bruce McLaren (eram os Mil Quilômetros de Nurburgring), mas não contavam com quebra da suspensão (eles sentiriam que os problemas residiam nos componentes) e o pior, é que em alguns meses havia outra corrida - Le Mans - e para esta prepararam 3 carros. Apesar da boa colocação nos treinos, na hora do "vamos ver", o carro de Richard Attwood e Jo Schlesser virou fumaça; o do Richie Ginther e Master Gregory quebrou a caixa de câmbio, o mesmo acontecendo no final da prova com o carro de Graham Hill e Bruce McLaren (na corrida que veio a seguir, no mesmo solo francês - 12 Horas de Reims - a caixa de câmbio, não resistiu a potência do motor). Definitivamente, não era um carro confiável, prova disso foram as 8 quebras na prova de Nassau.
A Ford - P... da vida, resolveu colocar um cara das pistas e construtor de carros, para comandar um novo modelo (a partir deste), para as corridas - surgiu então o GT40 MKI, nas mãos de Carroll Shelby. Este resolveu fazer este novo projeto na planta da Kar Kraft, em Michigan (USA). O motor - claro - era do Cobra de 4.7 litros. Os pneus eram da Dunlop e as rodas eram especiais e fundidas e, a caixa de câmbio deixou de ser italiana, para ser da ZF. Na primeira prova (provinha na verdade), em Daytona, a dupla Ken Miles e Lloyd Ruby, ganhou com uma certa facilidade (em seguida, ficou em segundo, com motor Chevrolet) na pista de Sebring - e o pior, é que quem ficou em primeiro foi um Chaparral. Mais uma vez a Ford ficou P... da vida.

Isso fez nascer o MKII, com um motor maior, com 7 litros (6.990cc vindo dos stock-cars). A estréia foi uma droga - o novinho MKII estorou advinhem o que? Claro, o câmbio (os outros que participaram desta estréia - com motores dos cobras, só quebraram o câmbio e estouraram a junta do cabeçote). Em 66 - tudo era empregado para a prova de Le Mans. Aliviaram o peso em 180 quilos e adotaram uma transmissão automática - resultado: Ganharam as 24 Horas de Daytona e as 12 Horas de Sebring (esta com um modelo não muito famoso - o roadster - com a dupla Ruby e Milles). Em Le Mans deste ano, um dos 8 carros que largaram, foi pilotado por Bruce McLaren e Chris Amon, e... ganharam, sendo seguidos por mais dois outros GT40 - isso (a vitória), se repetiu de 67 a 69!!!
Há que se recordar que nos 1000 Km de Spa, de 1967 foram vencidos por um GT40 denominado Mirage Ford (era a mesma coisa, numa versão mais leve) e, no mesmo ano, em Le Mans foram inscritos 7 versões por assim dizer, dos GT40 distribuídos em Time oficial e em outros Times. A Ferrari colocou 7 carros, e a Chaparral (apoiada de forma disfarçada pela Chevrolet - que só forneceu o motor), não ficou atrás, acompanhados pelas Lolas T70. A.J. Foyt e Dan Gurney, ganharam a prova e em segundo ficaram Bruce McLaren e Mark Donohue, e as Ferraris 330P4, ficaram 4 voltas atrás!!! Os franceses mudaram as regras em 68, não podendo os motores passarem de 5 litros, isso fez a Ford retirar-se da prova (assim como a Ferrari), but... os GT40 passaram a participar em outros Times particulares, sendo o mais famoso aquele que tinha os carros azul-claro e laranja, do Time Gulf - agora o alvo não era mais a Ferrari, eram os alemães da Porsche (os GT40 produzidos pela JW, ganharam Le Mans com mexicano Pedro Rodriguez).

Em 69 ocorreu a chamada Volta Infernal em Le Mans, onde um dos GT40 cruzou a linha de chegada, pilotado por Jacky Ickx, 120 metros na frente do Porsche 908 de Hans Hermann (isso porque, os dois durante 3 horas, trocavam de posição a cada volta e trecho do circuito) - sem contar com os Porsches 917 dando combate aos GT40 (um dos 917 foi o causador de um acidente, matando o piloto e dono da equipe John Woofe - Time Woofe e outro 908 pegava fogo no meio da madrugada) em companhia das pentelhas Matra. Os GT40 se aposentaram em 69, nas 12 Horas de Sebring, com vitória.

_ Mk I (1965) Mk IV (1967) Mk I Gulf (1968)
MOTOR
Posição e cilindros central, long., 8 em V central, long., 8 em V central, long., 8 em V
Comando e válv. por cilindro no bloco, 2 no bloco, 2 no bloco, 2
Diâmetro e curso 102 x 72,9 mm 108 x 96,1 mm 101,6 x 76,2 mm
Cilindrada 4.736 cm3 6.997 cm3 4.736 cm3
Taxa de compressão 12,5:1 10,5:1 ND
Potência máxima 390 cv a
7.000 rpm
500 cv 425 cv a
6.000 rpm
Torque máximo 45 m.kgf a
5.000 rpm
65 m.kgf a
5.000 rpm
54,7 m.kgf a
4.750 rpm
CÂMBIO
Marchas e tração 5, traseira 4, traseira 4, traseira
FREIOS
Dianteiros e traseiros a disco a disco ventilado a disco ventilado
DIMENSÕES
Comprimento 4,191 m 4,343 m ND
Entreeixos 2,413 m 2,413 m ND
Peso 832 kg 1.000 kg 1.256 kg
DESEMPENHO
Velocidade máxima 317 km/h 354 km/h 338 km/h
ND = não disponível
Os primeiros 12 “veículos-protótipo” carregaram os números de série GT-101 até GT-112. A “produção” começou e os carros subseqüentes, o MkI, MkIIs, MkIIIs, e MkVs, foram numerados GT40-P-1000 até GT40-P-1145 - todos eram oficialmente “GT40s”. Cabe lembrar que o Enzo Ferrari, quando estava negociando a Ferrari com a Ford, também, estava com a Fiat e utilizou esta negociação, para elevar as ofertas da montadora italiana e ter uma certa liberdade e independência da Fiat. Isso frustou o tio Henry II. Este antes do GT40, negociou com a Lotus (sócia com a Ford na Indy 500, mas o Colin Chapman pediu muito dinheiro para tocar o projeto), com a Lola e com a Cooper (estava em declínio na F1 e não tinha experiência em carros GT).
A Ford escolheu, então a Lola, como resposta à Lotus. Broadley dono da Lola, contribuiu com o chassis e desenvolveu o "GT40" durante um ano sobre o chassis Lola Mk 6, sob a coordenação de Roy Lunn (aquele do Mustang de 1.7 litros) da Ford Motor Co. (que fora enviado dos EUA para a Inglaterra). foi emitido a Inglaterra. No fim de 1963 a equipe mudou-se para Slough, Inglaterra perto do aeroporto de Heathrow. O primeiro chassis foi entregue em 16 de março de 1963. Primeiro “Ford GT” ou GT/101 foi colocado em ação de teste, na Inglaterra em 10 de abril e exibido em New York.

Essa foto acima mostra o GT40P/1021 confeccionado pela Ford Advanced Vehicles (novembro de 1965). Esse carro era pintado na cor ''metallic olive green''. Rodas Borrani que se tornaria padrão nos futuros carros, apesar que muitos trocariam e pediam para fábrica rodas de magnésio mais fortes.
Na foto acima temos o GT40P/1040 em Le Mans, na fase de teste num fim de semana de abril de 1966. Esse carro e seu ''irmão'' o GT40P/1039, foram formar e correr pelo mesmo Time - Scuderia Filipinetti. Há várias fotos de ambos os carros, contudo, a pesquisa fica difícil porque ambos eram pintados da mesma cor e levavam o mesmo número (12).
Aqui você vê o Graham Hill com o team manager Alan Mann, em Goodwood no final de 1965. Este carro era o GT40P/1008 (Ford Press Car).
Esse é o GT40P/1007 nos treinos para Le Mans em junho de 1966, pilotado por Guy Ligier e Bob Grossman - não terminou a corrida - quebrou o distribuidor a noite e bem longe dos boxes.
Aqui o Graham Hill testando o GT40P/1019 (que estava sem nenhuma pintura), em Goodwood (novembro de 1965). Esse carro foi vendido para os EUA, antes de correr em solo europeu.
Aqui estamos em Sebring (março de 1966), estamos vendo o carro 21 (GT/105), inscrito pela Ford Advanced Vehicles. Na mesma prova estavam presentes o GT40P/1037 e o 1029, respectivamente dos Times Comstock e Scuderia Bear.

Aqui o GT40P/1038 nas cores do Essex Wire Team, correndo no Silverstone International Trophy Meeting, em maio de 1966, pilotado pelo Skip Scott (ficou em sexto lugar).

Este era o GT40P/1012 que fazia parte do Time Alan Mann Racing, no Spa 1000 km (maio de 1966), pilotado por Sir John Whitmore e Frank Gardner (terminaram em segundo).

Adoro essa foto - os carros não eram levados pelos race trucks (transports) - aqui estão os 2 GTs - Holman e Moody cars (o primeiro pintado em bronze era o GT40P/1032 pilotado pelo Paul Hawkins and Mark Donahue, e o segundo pintado na cor ouro (gold), era o GT40P/1016.
Aqui estamos em setembro de 1968, mostrando o GT40P/1075 que foi exposto no Paris Motor Show - esse carro ganhou Le Mans 24 Hour Race.

Este era o GT40P/1075 em Sebring 12 Hour Race (março de 1969) - pilotados por Jacky Ickx e Jackie Oliver.
Este era o GT40P/1075 em Nürburgring 1000 km (maio de 1968). Era geralmente pilotado por Paul Hawkins e Jacky Ickx.
Aqui o Bill Milliken usando um Ford GT40 para demonstrar todas as funções e características para os oficiais da NHTSA em 1966.
Mas... vimos aqui no Brasil GT40 correndo? É... vimos.... um destes carros veio para o Brasil para competir nas mãos de Sidney Cardoso. Na verdade esta fera veio primeiro para o Rio de Janeiro, depois, foi vendido para a Equipe Greco e depois foi parar nas mãos da Família Fittipaldi. De lá pra cá, não se teve mais notícias, but... seu antigo dono me deu algumas dicas. Vou dividir fotos do seu atual estado (impecável), e 3 filmes históricos da sua chegada no Brasil (no final do post), seu primeiro treino e sua primeira corrida. Este Ford GT 40, está agora correndo na Europa - Vide fotos abaixo retiradas do evento em Brumos Daytona Continental Historic em 2006:















E quanto custa um?
Pagaram por um carro norte-americano 11 milhões de dólares em Monterey, CA - leiloado pela RM Auctions!!! 11k por um Ford GT40?! Sim... este foi o valor pago pelo GT40 do time Gulf/Mirage (chassis P/1074) - este Ford foi o carro que não tinha teto e serviu de Cam-Car para as filmagens do fantástico race movie Le Mans. Na mesma semana foram vendidos outros GT40 com histórico de corridas, que foram arrematados por US2.205 milhões (chassis P/1033 de 1966), US2.860 milhões (chassis P/1059 de 1967) e US4.950 milhões (GT 104 que era o protótipo #4, de 1964).
GT40_00
Esse carro fabricado em 68 venceu sua corrida-debut, em SPA (maio de 67), tendo como piloto o lendário Jacky Ickx e o menos conhecido Dick Thompson - essa foi a primeira vitória de um carro do Time da Gulf. Na versão original era um Mirage M. 10003, quando venceu em SPA. Quando a FIA mudou as regras em 68, limitando a cubagem dos motores para 3 litros no caso de Protótipos - o Mirage voltou, então, para a John Wyer Automotive, no Reino Unido - nesta época é que foi transformado em GT 40 do Grupo 4 (com utilização de fibra de carbono - outra novidade para a época). Correu, então, em Daytona (3/2/68), em Sebring (3/3/68) e depois, fez testes em Le Mans com o Jacky Ickx, batendo o recorde da melhor volta com 3 minutos e 35,4 segundos. Venceu os 1000km de Monza (25/4/68), terminando em 19/05/68 com um honroso sexto lugar em Nürburgring (ganhou nesse ano, também, em segundo Watkins Glen). Em Outubro de 68 foi emprestado à Ecurie Fracorchamps, substituindo o P/1079 destruído em Le Mans – mas... volta novamente a J.W.A, em janeiro de 69 (David Hobbs e Mike Hailwood terminarem em quinto no BOAC 500, em Brands Hatch).
Em 70 o carro era do David Brown que o alugou à Solar Productions (do Steve McQueen), para ser utilizado como um carro-câmara no filme “Le Mans”. McQueen queria um carro de corrida para acompanhar as filmagens em ação, de carros de corrida - nada mais lógico. Para tanto, tiraram a capota do carro (não era aquele Ford GT40 conversível, como alguns já postaram).
O carro era insuportável de se pilotar - ficou muito instável. Ele foi utilizado nos 5 meses de filmagens. Tinha duas Cams na frente, e uma Cam que girava 180o montada na traseira. Outra foi montada na porta do passageiro.

Essa foto é ótima - tirada pelo fotógrafo Harley Cluxton mostrando o GT40P/1076 e o com a capota cortada para ser colocada uma câmara, para o filme 24 Horas de Le Mans do Steve McQueen (GT40P/1074).
Em 72 é que começou o restauro deste carro. O feliz proprietário que agora vendeu o carro, fez uma outra restauração completa em 2002. Em 2003, Jackie Oliver o pilotou em Goodwood Festival of Speed em 2009, pilotado pelo primeiro piloto - David Hobbs, no Amelia Island Concours d’Elegance (“Best in Class”).
Outros carros foram utilizados em filmagens... sempre com carros velozes... quem sabe se eles atingem este valor incrível!!!






Ford GT40 Mach I
Ford GT40 Mark IV em LeMans (1967)

Ford GT40 Mach II
Ford GT40 Mark IV - Sebring, 1967
Ford GT40s - Le Mans - vitória em 1966
Ford GT40 - Daytona, 1965







Le Mans 1966
Le Mans 1967
Le Mans 1968
Le Mans 1969
Outro de Le Mans de 69 com o Jacky Ickx
Le Mans 1969 em fotos
Top Gear
Chegada do GT40 no Brasil
Primeiro Treino
Primeira Corrida no Brasil
Goodwood - Um monte deles
História
Le Mans

Luis Cezar

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